quinta-feira, 10 de julho de 2014

Derrota vai fazer Brasil acordar para problemas



Por Roberto DaMatta


O placar de 7 a 1 para a Alemanha vai afetar a autoestima dos brasileiros, tão ligada ao futebol, e transbordar para outras áreas. A opinião é do antropólogo e escritor Roberto DaMatta, que conversou com a BBC Brasil logo após o jogo desta terça-feira.


"O futebol nos deu, sim, autoestima, mas não podemos reduzir o Brasil a isso. Essa derrota vai fazer o Brasil acordar e ter lucidez para lidar com seus problemas, em termos de segurança, saúde e especialmente no mundo da política, já que a eleição está aí", disse.

O antropólogo diz lamentar a derrota do Brasil, mas vê uma compensação no fato de que ela vai abrir os olhos de muita gente. Não sabemos ainda como, mas que vai haver um transbordamento para outras áreas, isso vai."

Frustração

Para DaMatta, a frustração e como lidar com ela é algo importante para o brasileiro e isso pode impulsioná-lo a ter uma visão diferente, com mais nitidez, das mazelas nacionais.

E essa mudança ganha mais peso diante do placar dramático. "É preciso ter em mente que 7 a 1 é mais que uma simples derrota, é uma demonstração clara de que estávamos vivendo uma ilusão", disse DaMatta, que já analisou o Brasil por meio do futebol em diversos textos. Alguns deles reunidos no livro "A bola corre mais que os homens - duas Copas".

O antropólogo acredita que o golpe na autoestima do brasileiro com o jogo desta terça-feira terá reflexos nas próximas semanas, até a eleição, e também depois disso, até os jogos de 2016.

A Olimpíada está aí e, com essa derrota, será preciso lidar com as questões nacionais, porque ela vai colocar o país em xeque de uma maneira brutal, especialmente na área da política pública."

Alegria do povo?

Saindo da esfera pública e voltando para o estádio em si, DaMatta acredita que o baque contra a Alemanha é uma chance para se reorganizar o futebol no Brasil.

"Para mim, com a minha cabeça de quase 80 anos e assistindo futebol desde o s 10, esse jogo de foi o fim de um ciclo. Vi o início do futebol aqui, sua ascensão, e agora isso. É como se fosse o fim do futebol-alegria-do-povo."

O antropólogo acredita que a goleada vai provocar a reorganização do mercado do futebol no Brasil.
"O futebol da seleção vai ser desmitificado. Porque o que vemos atualmente é a magia do marketing e não do futebol - e isso precisa mudar."

DaMatta critica o que chama de criação de mitos, formando um cenário que, para ele, parece Hollywood.

"A saída do Neymar, por exemplo, exemplifica bem isso. Cantar o hino segurando a camisa dele? Ele morreu? O Pelé se machucou e ganhamos a Copa em 62", diz o antropólogo, acrescentando que agora vai torcer para a Argentina. "Em nome dos latino-americanos."


Fonte: http://www.bbc.co.uk





segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pesquisa do IBGE derruba três mitos do governo Dilma sobre o emprego


POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA


Suspensa de maneira controversa, a pesquisa ampliada do IBGE sobre o mercado de trabalho tem o potencial de derrubar mitos propagados pelo governo Dilma Rousseff sobre o emprego no país.

Apurados em todo o país, os números mostram que o cenário atual é, sim, favorável -mas não a ponto de autorizar afirmações de tom épico como as mostradas abaixo, retiradas de discursos da presidente.

1) “Nós hoje, no Brasil, vivemos uma situação especial. Nós vivemos uma situação de pleno emprego.” (Dilma, 29/01/13)

O mito revisto: “Nós chegamos próximos do pleno emprego.” (Dilma, 17/07/13)
Os dados: A tese do (quase) pleno emprego se amparou nos resultados da pesquisa mais tradicional do IBGE, limitada a seis regiões metropolitanas, que mostra desemprego na casa dos 5%.

A pesquisa ampliada que começou a ser divulgada neste ano mostra taxa mais alta, de 7,1% na média de 2013, e, sobretudo, desigualdades regionais: no Nordeste, o desemprego médio do ano ficou em 9,5%.


2) “O Brasil, hoje, é um país que, em meio à crise econômica das mais graves, talvez a mais grave desde 1929, é um país que tem a menor taxa de desemprego do mundo.” (Dilma, 14/06/13)

O mito revisto: “Hoje nós temos uma das menores taxas de desemprego do mundo.“ (Dilma, no mesmo discurso)

Os dados: Em comparação com o resto do mundo, não há nada de muito especial na taxa brasileira. É semelhante, por exemplo, à dos Estados Unidos (6,7% em março), que ainda se recuperam de uma das mais graves crises de sua história.

O desemprego no Brasil é menor que o de importantes países europeus, mas supera o de emergentes como Coreia do Sul (3,9%), China, (4,1%,), México (4,7%) e Rússia (5,6%), além de ricos como Japão (3,6%), Noruega (3,5%) e Suíça (3,2%).


3) “Temos o menor desemprego da história.” (Dilma, 23/12/12)

O mito não foi revisto.

Os dados: A base da afirmação é que a taxa apurada em apenas seis metrópoles é a menor apurada pela atual metodologia, iniciada em 2001. Já foram apuradas no passado, com outros critérios, taxas iguais ou mais baixas.

A pesquisa ampliada permite comparações com taxas apuradas no passado por amostras de domicílios. Dados do Ipea mostram que o desemprego atual é semelhante, por exemplo, ao medido na primeira metade nos anos 90

Fonte: http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.br
Charge; Sponholz