domingo, 28 de agosto de 2011

Acusado no mensalão põe Jandaia no mapa



Prefeito José Borba, hoje no PP, fez de sua modesta cidade a campeã de verbas do Turismo

A pequena Jandaia do Sul, no Paraná, não é sede da Copa, não tem praia nem consta de qualquer roteiro turístico nacional ou estrangeiro, mas recebeu R$ 21,8 milhões em convênios com o Ministério do Turismo nos últimos três anos.

É um recorde no Estado, digno de um programa turístico imperdível, que deixou no chinelo a capital, Curitiba, e todas as cidades do litoral, conforme dados do Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU).

Com suas cataratas deslumbrantes, Foz do Iguaçu, segundo maior destino turístico do País, perdendo apenas para o Rio, levou só R$ 17,6 milhões, a segunda maior dotação do ministério em 3 anos.

Londrina, que atrai milhares de turistas com seu clima frio e os nevoeiros que lembram Londres, foi contemplada com R$ 13, 6 milhões. A "explosão turística" de Jandaia do Sul coincide com a eleição do prefeito José Rodrigues Borba (PP), em 2008.

Já de início, Borba conseguiu R$ 6,5 milhões. A partir da posse, em janeiro de 2009, o dinheiro jorrou solto e até agora ele obteve mais R$ 15,3 milhões em sucessivos convênios com o ministério. Borba integra a base aliada desde o primeiro governo Lula e é um dos 36 réus do inquérito do mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Acusado de corrupção e bando, ele renunciou ao mandato de deputado federal para evitar a cassação. Na época ele foi líder do PMDB, partido do então deputado Pedro Novais.

‘Cidade simpatia’. Com 20 mil habitantes, situada no Vale do Ivaí, Jandaia do Sul tem excelente IDH, um hospital psiquiátrico top e é chamada de "cidade simpatia". Mas fica a 400 quilômetros da praia e a quase 200 das cataratas e não consta da lista dos 65 locais classificados como "indutores de turismo". De tão insossa, não figura nem na rota estadual de destinos, segundo o jornal Gazeta do Povo.

Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), o caso revela a que ponto chegou o loteamento para atender a base aliada: "Não há qualquer compromisso com prioridades, nem com boa aplicação dos recursos".

O disparate pode ser medido pela destinação do dinheiro: os maiores convênios se destinam a pavimentação e drenagem (R$ 11,2 milhões e a calçamento (R$ 2,6 milhões). Outros convênios foram para a construção de um auditório (R$ 1.121.250), custeio das festas de Natal em 2009 (R$ 200 mil) e revitalização da praça central (R$ 146.250).

Procurado, Borba não retornou as ligações para explicar seu sucesso. Por assessoria, o ministro Novais avisou que a pasta apoia obras que possam contribuir para alavancar o turismo, mesmo em cidades não listadas como destinos turísticos. Mas lembrou que os projetos devem ter justificativa técnica: "Se for detectada qualquer irregularidade, os gestores serão responsabilizados e poderão ser obrigados a devolver os recursos."

Fonte: Estadão 24/08/11

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