terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um País Quase Sério


É preciso tomar cuidado com essa história de que o Brasil ultrapassou o Reino Unido e agora passou à sexta economia do planeta. Euforia demais é um perigo. Ninguém esquece os tempos do “milagre brasileiro”, do “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Deu no que deu, até na Comissão da Verdade.

Ainda bem que o governo e o Congresso estão de recesso, senão já teria começado a maratona de discursos e pronunciamentos celebrando o anúncio. Começa que devemos desconfiar de quem anuncia.

São eles mesmo, as empresas e institutos americanos que de vez em quando entram em parafuso, até em falência, acostumados a dar notas para todo mundo, menos para eles. Depois, porque a produção não é tudo. Indústrias, comércio, agricultura e serviços vão bem, mas nem tanto a ponto de evitar que o crescimento do PIB congelasse no último trimestre.

A explicação é de que outros cresceram menos, ou não cresceram. Claro que a notícia surge positiva, nos enche de orgulho, mas seria bom atentar para nossos índices de pobreza e até de miséria. Na palavra da própria presidente Dilma, o Brasil tem 16 milhões de miseráveis.

Festejar o sexto lugar será prematuro enquanto a distribuição da renda nacional não chegar a patamares muito mais justos. Os potentados de nariz em pé deveriam olhar para o fim da fila. A propósito, continua sempre oportuno buscar no passado lições capazes de nortear nosso futuro.

Voltaire, no imperdível “Ensaio Sobre a Moral e o Espírito das Nações”, puxou as orelhas da França ao escrever que nenhum país possuía o tal “destino manifesto” de que se vangloriavam as elites francesas.

Muito pelo contrário, ridicularizou o Estado, a nobreza, o clero e negou o direito divino dos reis ao prever sérias dificuldades para o país envolto na ilusão. Felizmente para ele, morreu antes da Queda da Bastilha.

oderia até clamar pela Revolução, mas jamais concordaria com o terror, a ditadura e o império de Napoleão. Ignoramos o que acontecerá caso o mundo continue mergulhado na crise, mesmo se nós permanecermos crescendo. Boa coisa não será.


Fonte: Contraovento - Carlos Chagas, Tribuna da Imprensa.
Charge: Mariano

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