domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mulheres da Coreia do Norte só têm 18 opções de cortes de cabelo



Na Coreia do Norte não é comum ver a mulherada ostentando por aí o novo cabelo da moda ou cortes inspirados nas atrizes de Hollywood.

Isso porque lá, as mulheres são encorajadas a usar apenas os cortes de cabelo pré-aprovados pelo governo, como parte de uma campanha oficial que tem o objetivo de reduzir as influências ocidentais no país. As informações são do tabloide britânico "Daily Mail".

O catálogo abaixo foi encontrado em um salão de beleza em Pyogyang, a capital do país, e mostra apenas 18 opções de cortes. Já os homens têm apenas 10 opções, todas de cabelos curtos.
Reprodução
Catálogo com os 18 cortes de cabelo permitidos na Coreia do Norte
Catálogo com os 18 cortes de cabelo permitidos na Coreia do Norte


É possível dizer até se uma mulher é casada ou solteira, apenas olhando para o cabelo.

As mulheres casadas tendem a ser desaprovadas se não usarem um cabelo mais curto. Já as solteiras podem ser um pouco mais ousadas e optar por cabelos mais longos e ondulados, além de poderem usar tranças e rabos-de-cavalo.

Em 2005, a TV estatal da Coreia do Norte lançou uma série de cinco capítulos intitulada "Vamos cortar o cabelo de acordo com o estilo de vida socialista" com o objetivo de promover modelos curtos para os homens.

Equipes do programa iam às ruas com câmeras escondidas em busca de coreanos "rebeldes" que usavam cabelo comprido para mostrá-los na televisão.

Segundo o tabloide, justificativas bizarras foram veiculadas no tal programa, como a de que cabelo comprido rouba a energia do cérebro.

Os homens são encorajados ir ao barbeiro a cada 15 dias para manter os fios sempre mais curtos do que cinco centímetros. Já os homens idosos podem ter o cabelo com até sete centímetros de comprimento.

Fonte:Folha UOL

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Dois projetos para eleitor ver



Edison Nunes - O Estado de S. Paulo - 21/02/2013


O PT comemora sua década no governo federal sustentando, em curiosa cartilha, o embate entre dois projetos para o País: o primeiro, democrático e virtuoso; o segundo, o neoliberal dos conservadores de plantão.

Contudo, há que se explicar o enorme consenso social e político sobre as principais políticas públicas, em particular as macroeconômicas, e a ausência de uma voz oposicionista contumaz.

Se há dois projetos antinômicos, seria de se esperar alguma polarização política, além de crescente depuração das alianças eleitorais e congressuais representando a consequente clivagem. O sistema político está longe de apresentar tais características.

Considere-se, em primeiro lugar, o alinhamento do governo federal com as elites empresariais na formulação das políticas econômicas. Nada indica que os empresários estejam particularmente descontentes e não contemplados. Sabe-se que certas indefinições permanecem mais por não haver unidade de expectativas entre os vários setores produtivos do que dificuldades de acordo político.

Quanto às elites políticas, o espectro de alianças é tão largo que dificilmente poderia ser abarcado por um. projeto de poder polarizador.

Quanto mais à esquerda estariam os peemedebistas José Sarney e Renan Calheiros do tucano Aécio Neves? Se Eduardo Campos (PSB-PE) alinha-se ao projeto petista, por que está se comportando como alternativa?

De fato, pesquisas sobre a posição dos parlamentares tem revelado enorme e crescente convergência ao centro, em todos os partidos. Isso tudo desde que o oposicionismo sistemático, antes descompromissado com a agenda governativa, chegou ao poder.

Por que, então, insistir na existência de uma polarização? Exatamente porque, ao não existir agendas realmente conflitantes, aumenta-se a pressão no sentido de criá-la pela retórica.

O que o eleitor vai ajuizar é a versão quando se encontrar diante das urnas.

Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas da USP.

Fonte-   Estadão - Edson Nunes  é PROFESSOR DO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM CIÊNCIAS SOCIAIS DA PUC-SP, PESQUISADOR DO NÚCLEO DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS DA USP

O Estado gerencial e o fordismo tupiniquim




Análises: Rudá Ricci


São dois projetos distintos e muito nítidos. A gestão FHC trouxe elementos da lógica e da estrutura organizacional empresarial para o interior do Estado. Não adotou a cartilha neoliberal que, aliás, é extremamente pobre, mas a lógica do Estado gerencial, que se alimentou de alguns elementos neoliberais. Já a concepção lulista estaria mais próxima do que a Escola da Regulação Francesa denominou de "fordismo". Um fordismo tardio, já que seu declínio nos EUA e Europa teve início a partir do choque do preço do petróleo na segunda metade dos anos 1970.

O fordismo tardio adotou os seguintes instrumentos anticíclicos: Estado central controlador e concentrador de recursos públicos para investimento (o que esvaziou a autonomia dos municípios e gerou total dependência de convênios federais); BNDES como banco de fomento de grandes projetos; Bolsa Família e aumento real do salário mínimo e da renda média dos trabalhadores e criando potente e voraz mercado consumidor.

Politicamente, instalou-se a lógica neocorporativa no País, em que centrais sindicais e organizações da sociedade civil passaram a ser financiadas e a participar ativamente das deliberações e instâncias governamentais (estatais, agências reguladoras) e consolidou-se a coalizão presidencialista - em que grande parte dos partidos se envolve diretamente na gestão do aparelho de Estado.

Essa potente estrutura de Estado diminuiu sobremaneira os espaços de qualquer oposição política. A inserção social ocorreu pelo consumo e não pela ampliação de direitos ou pela política, o que apartou ainda mais a lógica política da lógica social. Quase totalidade dos partidos está, hoje, controlada por parlamentares e não pela sociedade civil. Os deputados, inclusive, acabaram se tornando príncipes deste fordismo tardio, mediando convênios entre prefeituras e agências federais. Como se percebe, o fordismo tardio tupiniquim é muito mais articulado e poderoso que a agenda dos anos de gestão tucana. Avança socialmente, mas atualiza a lógica política clientelista que marca a História da República brasileira desde seus primórdios.
Fonte: Estadão - Rudá Ricci é SOCIÓLOGO, DOUTOR EM CIÊNCIAS SOCIAIS, DIRETOR GERAL DO INSTITUTO CULTIVA, AUTOR DE LULISMO (FUNDAÇÃO ASTROJILDO PEREIRA/EDITORA CONTRAPONTO).

Por que Cuba tem mêdo de Yoani Sanchez



Leia a Entrevista com ela   Aqui

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Mosquito da dengue criou resistência a repelente, diz pesquisa


  • Cientistas concluíram que, ainda que inicialmente repelidos pelo composto químico do repelente, os insetos depois o ignoraram
    Cientistas concluíram que, ainda que inicialmente repelidos pelo composto químico do repelente, os insetos depois o ignoraram
Uma pesquisa conduzida por cientistas no Reino Unido revelou que o mosquito da dengue aparentemente desenvolveu resistência a um princípio ativo presente na maioria dos repelentes atualmente comercializados no mundo, inclusive no Brasil.

A substância, conhecida como DEET, ou dietiltoluamida, é largamente empregada em repelente contra insetos, combatendo mosquitos, pernilongos, muriçocas e borrachudos. O composto age interferindo nos receptores sensoriais desses animais, inibindo seu desejo de picar o usuário.

O estudo, divulgado pela publicação científica Plos One, analisou a reação de mosquitos da espécie Aedes aegypti, vetores da dengue e da febre amarela, à substância. Os cientistas concluíram que, ainda que inicialmente repelidos pelo composto químico, os insetos depois o ignoraram.

Eles recomendaram que governos e laboratórios farmacêuticos realizem mais pesquisas para encontrar alternativas à DEET.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue é hoje a doença tropical que se propaga mais rapidamente no mundo. Nos últimos 50 anos, sua incidência aumentou 30 vezes, o que pode transformá-la em uma pandemia, advertiu o órgão.

Isca

Para provar a eficácia da DEET os cientistas pediram a voluntários que aplicassem repelente com DEET em um braço e soltaram mosquitos.

Como esperado, o repelente afastou os insetos. No entanto, poucas horas depois, quando ofereceram aos mesmos mosquitos uma nova oportunidade de picarem a pele, os cientistas constataram que a substância se mostrou menos eficiente.

Para investigar os motivos da ineficácia da DEET, os pesquisadores puseram eletrodos na antena dos insetos.

"Nós conseguimos registrar a resposta dos receptores na antena dos mosquitos à DEET, e então descobrimos que os mosquitos não eram afetados pela substância", disse James Logan, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, instituição que realizou o estudo.

"Há algo sobre ter sido exposto ao composto químico pela primeira vez que muda o sistema olfativo dos mosquitos. Ou seja, a substância parece mudar a capacidade dos mosquitos de senti-la, o que a torna menos eficiente", acrescentou.

Uma pesquisa anterior feita pela mesma equipe descobriu que as mudanças genéticas em uma mesma espécie de mosquito podem torná-los imunes à DEET.

"Os mosquitos evoluem muito rapidamente", disse ele. "Quanto mais nós pudermos entender sobre como os repelentes funcionam e os mosquitos os detectam, melhor poderemos trabalhar para encontramos soluções para o problema quando tais insetos se tornarem resistentes à substância".

O especialista acrescentou que as descobertas não devem impedir as pessoas de continuarem usando repelentes com DEET em áreas de alto risco, mas salientou que caberá aos cientistas tentar desenvolver novas versões mais efetivas da substância.

Para complementar o estudo, os pesquisadores britânicos agora planejam entender por quanto tempo o efeito dura depois da primeira exposição ao composto químico.

A equipe também deve estudar o efeito em outros mosquitos, incluindo espécies que transmitem malária.





Brasil

No Brasil, a dietiltoluamida está presente na maioria dos repelentes encontrados à venda. Produtos com termetrina e citronela também podem ser achados, mas em menor número.

Não é a primeira vez, entretanto, que a substância causa polêmica.

No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu à consulta popular uma proposta de resolução para assegurar a segurança e a eficácia dos repelentes a ser adotada pelos fabricantes.

No documento, cujo objetivo era disciplinar o comércio desse tipo de produto, o órgão determinava, por exemplo, a proibição do uso de repelentes com DEET em crianças menores de dois anos, além de informar sobre a necessidade de um estudo prévio para produtos com dosagem acima de 30% para um público acima de 12 anos. Em altas dosagens, especialmente em crianças, repelentes com DEET podem ser tóxicos.

Em entrevista à BBC Brasil, Jorge Huberman, pediatra e neonatologista do Hospital Albert Einstein e diretor do Instituto Saúde Plena, sugeriu alternativas ao uso de repelentes com DEET.

"É comum que depois de algum tempo os mosquitos adquiram certa imunidade ao produto, ainda que sejam necessários mais estudos para comprovar tal tese", explicou.

"Como alternativa, as pessoas podem usar repelentes com citronela e tomar complexo B, cujo cheiro desagrada os mosquitos, além, é claro, de usar mosquiteiros", disse.

Fonte: UOL notícias 21/02/13

Caminhando e Cantando e Seguindo a Canção







Fonte: Eramos 6

Os 10 anos do PT no Phoder




Charges de Sponholz

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O enterro da responsabilidade fiscal (LRF)


Felipe Salto

Desde 2006 o governo federal vem estabelecendo novos padrões para o desenho das políticas macroeconômicas no Brasil, o que foi intensificado no governo Dilma Rousseff. Os objetivos são: câmbio desvalorizado, juro real baixo e crescimento de 4,5% ao ano. O instrumento: expansão fiscal. A economia já está colhendo os frutos dessa "nova matriz" de política econômica: crescimento baixo e inflação alta. Adicionalmente, tal conjunto de políticas lega à economia e à sociedade um Estado obeso, menos transparente e que regride no âmbito das instituições de finanças públicas.

A expansão serve tanto ao controle da inflação (via desonerações pontuais) como à meta de produzir crescimento a todo custo, seja pelo avanço das despesas, seja por meio de pacotes de estímulos e crédito público subsidiado pelo restante da sociedade, não escolhida para participar do banquete. A coroar todo o processo está a contabilidade criativa, que serve como maquiagem para o lado feio expansão.

A política fiscal no País tomou um rumo incompatível com a sustentação de um regime de metas para o superávit primário. Não apenas os descontos do PAC são utilizados para reduzir a meta anual de superávit, como um volume importante de gastos vem sendo realizado sem a devida contabilização na despesa primária. É o caso dos subsídios implícitos nas operações de concessão de crédito ao BNDES, que oneram as contas públicas em R$ 15 bilhões ao ano, pelo menos, mas que aparecem apenas parcialmente na desagregação das despesas. Além disso, um fluxo elevado de receitas tem sido fabricado pelo governo por meio dessa relação espúria entre os bancos públicos e o Tesouro Nacional. Trata-se das receitas de dividendos pagos à União.

O problema resume-se no fato de que as receitas de dividendos - que foram gerados na própria atividade realizada pelos bancos públicos - entram na conta do superávit, mas as despesas com os subsídios, não. A diferença, simplesmente, acaba por produzir um resultado primário maior do que aquele que efetivamente vem sendo realizado pelo governo. O total em créditos do Tesouro junto ao BNDES já superou a marca dos R$ 350 bilhões, conforme abertura da dívida líquida do setor público consolidado, divulgada pelo Banco Central.

Como se não bastassem tais artifícios, essa contabilidade criativa, o governo decidiu sacar novos instrumentos do estojo de maquiagem. No último dia de 2012 o Tesouro resgatou R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano do Brasil (FSB), registrou receita de R$ 2,3 bilhões em títulos pagos pelo BNDES à guisa de antecipação de dividendos e de R$ 4,7 bilhões, por meio do mesmo mecanismo, usando a Caixa Econômica. Agora, em fevereiro, anunciou-se a cereja do bolo: os R$ 20 bilhões previstos pelo governo em renúncias fiscais com as medidas de desoneração tributária poderão, da mesma forma que os gastos do PAC, compor o montante a ser abatido da meta de superávit primário, como se o gasto não tivesse sido realizado.

Em verdade, tais medidas representam o abandono definitivo do regime de metas de superávit primário. E evidenciam que o governo não medirá esforços para buscar subterfúgios capazes de ampliar a intensidade da política fiscal mal-acabada instituída em 2009. Pisará fundo no acelerador do gasto público, reduzindo o potencial de crescimento do produto interno bruto (PIB).

Quanto ao FSB, é preciso lembrar que os recursos sacados para produzir resultado, às pressas, foram originados no próprio orçamento fiscal, em 2008, quando a arrecadação apresentava recorde atrás de recorde. Isto é, reservou-se 0,5% do PIB, num fundo criado pela Fazenda, que poderia simplesmente servir para fazer política efetivamente "anticíclica". No entanto, como se sabe, os objetivos do fundo eram outros: intervir no mercado de câmbio a fim de produzir a taxa cambial depreciada almejada pelo governo. Agora, passados quatro anos, e após o fundo amargar prejuízos vultosos, por causa de sua política equivocada de investimento em ações da Petrobrás, o governo age de maneira a fazer crer que nunca imaginara o FSB como um instrumento da Fazenda para ampliar seu potencial de atuação no mercado cambial. Atuou, de forma pouco transparente e tomando a medida aos 45 minutos do segundo tempo, para apagar o incêndio produzido pela sua própria ingerência, motivada pelo desprezo ao papel exercido pela responsabilidade fiscal, nos últimos 15 anos, na sustentação do processo de crescimento e de controle inflacionário.

Há diversas maneiras de construir um arcabouço de instrumentos e de políticas com o fim de garantir a austeridade fiscal. A fixação de metas para o superávit primário, como é sabido, pode ser questionada em vários pontos, mas seu abandono apenas deveria ocorrer na hipótese de o governo ter construído uma alternativa melhor para substituir esse mecanismo de geração de esforço fiscal e redução da dívida/PIB.

O Brasil já passou por momentos de crise da dívida interna, quando a credibilidade do País era baixa, a confiança do restante do mundo na economia doméstica era mínima e o governo não dispunha de nenhum mecanismo institucional para controlar a evolução de suas despesas. Mas conseguiu conquistar uma situação positiva nessa seara, que teve efeitos extremamente benéficos sobre a dinâmica de crescimento, o controle inflacionário e a sustentação de poupança externa razoavelmente elevada para alicerçar a aceleração do consumo observada nos últimos anos.

Hoje em dia, com a marcha à ré engatada pelo governo, no campo fiscal conseguiremos um feito quase impossível de ser empreendido, mesmo com tanto empenho: enterrar o sistema de metas fiscais e, em seu lugar, deixar um enorme ponto de interrogação.

Fonte: Estadão 12/02/13 - http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-enterro-da--responsabilidade-fiscal-,996084,0.htm

Felipe Salto é PROFESSOR DO MASTER IN BUSINESS ECONOMICS (FGV/EESP), É ESPECIALISTA EM FINANÇAS PÚBLICAS DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA

Charge: Ivan Cabral

O crime entrou em campo


O Estado de S.Paulo

Paixão popular no mundo inteiro, o futebol não é isento de denúncias de corrupção. Já na transição do amadorismo para o profissionalismo, ele é tema de extenso folclore contendo casos como o do dirigente de um clube que prometeu pagar ao goleiro do adversário certa quantia por gol tomado e, após o quinto, avisou-lhe que o trato não valia para os próximos. Tendo esse esporte se transformado num negócio muito próspero, a manipulação de resultados de partidas se tornou relativamente comum. E as quantias envolvidas, cada vez maiores. Ainda assim, os dados revelados no último escândalo divulgado impressionam: quase 700 jogos - 380 em 15 nações europeias e mais de 300 na América do Sul, América Central, África e Ásia, inclusive no Brasil, na Copa dos Campeões da Europa e nas eliminatórias para a Copa do Mundo - estão sob investigação do Serviço Europeu de Polícia (Europol).


Os policiais calculam que na Europa, onde se concentra a elite do futebol mundial, a máfia devassada pagou 2 bilhões (R$ 5,4 milhões) em propinas e recebeu 8 bilhões (R$ 35 bilhões) em prêmios de loteria e apostas feitas pela internet. "Nunca vimos uma rede tão grande de criminosos no futebol. Trata-se de uma operação sofisticada e uma evidência clara de como a corrupção invadiu o esporte", comentou o diretor do Europol, Rob Wainwright.

O esquema devassado baseia-se na compra de jogadores, árbitros e dirigentes para assegurar resultados de interesse de apostadores. Jogos de pouco destaque no noticiário esportivo estão sob suspeita. O trio que apitou um amistoso entre seleções sub-20 da Argentina e da Bolívia em 2010 deu à partida um acréscimo de 13 minutos sem razão aparente. E o juiz ainda marcou um pênalti inexistente para garantir a vitória dos argentinos. Pelo menos um jogo válido pela Copa dos Campeões na Inglaterra, dois das eliminatórias para a Copa da África e um na América Central estão sendo investigados. De acordo com os investigadores, além de obter lucros milionários, os bandidos também usam a fraude para lavar dinheiro ilícito obtido na venda de entorpecentes.

Esta é a principal diferença entre o escândalo denunciado esta semana pelo Europol e outros ocorridos em passado recente. Em 2006, a descoberta da manipulação de resultados no futebol italiano resultou no rebaixamento da tradicional Juventus de Turim para a segunda divisão do campeonato nacional. No ano passado, esquema similar foi denunciado no mesmo país, cuja seleção já conquistou quatro Copas do Mundo da Fifa.

No Brasil, também não é incomum o registro de casos escabrosos. Há 30 anos, quando a Loteria Esportiva era uma mania nacional quase igual à paixão pelo próprio futebol, a revista especializada em esportes Placar revelou que jogos que constavam das cartelas de aposta tinham resultados alterados à base do suborno de seus participantes. Em 2005, outra revista, a Veja, denunciou a chamada Máfia do Apito, sob o comando de Edilson Pereira de Carvalho, acusado de chefiar uma quadrilha de árbitros venais. Das investigações feitas após a reportagem resultou a anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro.

Só que a corrupção não se limita ao que ocorre dentro das quatro linhas que delimitam o gramado. Também prospera nos escritórios de um negócio que movimenta fortunas em transferências e contratos de craques e treinadores. E em quantias vultosas investidas em publicidade na transmissão pela televisão de torneios acompanhados por bilhões de espectadores pelo mundo inteiro. Recentemente, Ricardo Teixeira foi apeado da presidência da CBF sob suspeita de enriquecimento ilícito. E a revista francesa France Football revelou que dirigentes da Fifa teriam recebido propina para escolher o Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022.

O combate a essa praga deve começar pela transparência na contabilidade de clubes, federações, confederações e da Fifa, entidades privadas em que dirigentes reinam por anos a fio, sem a obrigação de prestar contas de suas gestões.

Boa safra, grandes problemas


O Estado de S.Paulo

Mais uma vez a previsão de uma boa safra, no Brasil, é recebida como prenúncio de sérios problemas de armazenagem, transporte e embarque nos portos. Com muito investimento em pesquisa, em novos processos e em modernização produtiva, o País converteu-se numa das principais potências mundiais produtoras de alimentos, posição consolidada nas últimas duas décadas. Mas foi incapaz de criar nesse período a infraestrutura necessária à estocagem e à movimentação eficiente e barata de suas colheitas.
 Neste ano o problema se repete. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima para a safra 2012-2013 um novo recorde na produção de cereais e oleaginosas - 185 milhões de toneladas, 11,3% maior que a obtida na temporada anterior. A área cultivada deve ser 4,1% maior que a da safra 2011-2012 e o aumento da safra resultará principalmente, como tem ocorrido há muitos anos, do aumento da produtividade. A estimativa do IBGE, quase sempre com pequena diferença em relação aos cálculos da Conab, também aponta um resultado recorde, de 183,3 milhões de toneladas.

Se as projeções se confirmarem, as condições de abastecimento interno continuarão favoráveis, com benefícios para o consumidor, e o País manterá uma posição destacada no mercado internacional de produtos agrícolas. Mas produtores, processadores e exportadores terão de enfrentar, como sempre, condições logísticas muito ruins. Pelas contas do governo, os armazéns públicos e privados têm capacidade para receber até 145 milhões de toneladas de grãos.
 Mas o problema é certamente maior que o indicado por esse número, porque faltam armazéns adequados para as duas maiores culturas - soja, com produção prevista de 83,4 milhões de toneladas, e milho, com colheita estimada em 35,1 milhões na primeira safra e 40,9 milhões na segunda. A insuficiência e a distribuição inadequada de armazéns já encarecem o produto, porque forçam o transporte em longas distâncias, entre a zona produtora e as instalações de estocagem.

O segundo grande problema é o das vias de transporte interno. Rodovias são muito mais importantes para o agronegócio no Brasil do que nos Estados Unidos e em vários outros países produtores, onde o uso de ferrovias e hidrovias é mais comum. Só isso bastaria para deixar os brasileiros em séria desvantagem. Mas, além disso, há os problemas de conservação e de qualidade das estradas no Brasil.

A esses problemas é preciso acrescentar a dificuldade de acesso aos portos. Pesquisa recente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) chamou a atenção para o problema. Segundo 73,1% dos agentes de transporte marítimo entrevistados, o acesso terrestre deficiente é um obstáculo grave ou muito grave ao exercício de sua atividade. Os acessos rodoviários foram descritos como inadequados por 61,3%, por causa de fatores como a travessia de área urbana, congestionamento de veículos de carga e falta de segurança, entre outros.
 Os acessos ferroviários foram classificados como ruins por 29,3% dos profissionais ouvidos na pesquisa, por deficiência de infraestrutura para embarque e desembarque de carga, mau estado de conservação das áreas de entrada e ainda travessia de área urbana. Além disso, faltam silos nas zonas portuárias. Os próprios portos, como têm indicado outros levantamentos, ainda apresentam deficiências importantes em seu funcionamento.

Os problemas de capacidade e de operação dos portos são conhecidos e discutidos há muito tempo. O governo pelo menos se dispõe a adotar novas políticas de estímulo a investimentos em terminais. Os critérios oficiais têm sido criticados por diferentes grupos de interesses. Isso inclui tanto empresários quanto sindicalistas.

O governo ainda terá de enfrentar dificuldades políticas para conseguir os novos investimentos e precisa agir com urgência. Deficiências logísticas são problemas bem conhecidos e agravam-se ano a ano, encarecendo as mercadorias e tornando o País menos competitivo. Não adianta muito ganhar produtividade no interior da fazenda ou dentro dos muros da fábrica, se faltam condições para movimentar a produção.

Presidente mira 2014 e adota 'novo' estilo


Pré-candidata à reeleição em 2014, a presidente Dilma Rousseff acatou os conselhos do antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva e alterou a agenda para intensificar o corpo a corpo com empresários, representantes de movimentos sociais, sindicalistas e partidos da base governista.

Desde janeiro, a presidente mudou a forma de se relacionar com setores da sociedade. Deixou de lado o perfil mais técnico e passou a adotar estilo parecido com o de Lula, que comandava as relações políticas do governo de seu gabinete no Planalto.

A mudança ocorreu após conversas com Lula no final de 2012, em Paris, e no último dia 25, em São Paulo. Nas ocasiões, os dois traçaram estratégias para este ano e discutiram 2014. O ex-presidente manifesta preocupação com o baixo crescimento do País e o isolamento do governo, que teriam implicações negativas no seu plano de reeleger de Dilma.

Logo após se encontrar com Lula em São Paulo, Dilma mudou o tom. Em cima de um palanque, enalteceu resultados dos programas sociais iniciados pelo antecessor e disse que o Brasil crescerá. Dias depois, em Sergipe, criticou a política energética do tucano FHC. O ataque foi uma resposta à direção do PSDB, que classificou como "antecipação de campanha" o anúncio da redução no valor da energia elétrica feito em rede nacional.

Na semana passada, começou a colocar em prática a aproximação com os movimentos sociais. Na segunda-feira, visitou - pela primeira vez desde que assumiu a Presidência - um assentamento do MST. No interior do Paraná, ouviu críticas à política de reforma agrária, mas também aplausos e um coro de "Dilma novamente", em referência a 2014.

Na terça-feira, Dilma se encontrou com dirigentes da CUT e, segundo a entidade, se comprometeu a conversar com as centrais sindicais em marcha marcada para 6 de março, em Brasília. Caso a reunião se confirme, será a primeira vez que ela receberá pessoalmente a pauta de reivindicações dos trabalhadores, tarefa que delegava ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

"As iniciativas de receber o MST e a CUT vão na direção de reabrir um diálogo, um diálogo que para Dilma é importante, porque esses são setores tradicionalmente ligados ao PT e que apoiaram a eleição dela em 2010 de maneira muito decisiva", explica o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.

Além dos sindicalistas, Dilma recebeu empresários no Planalto. Foram mais de dez encontros com executivos desde janeiro.

Base. A presidente também intensificou os contatos políticos. Na semana passada, cortejou o PR para cimentar a volta da sigla à base governista. A relação com o partido está estremecida desde 2011, quando o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento pediu demissão após denúncias no setor. O ex-ministro Carlos Lupi, presidente do PDT, que também caiu na "faxina" feita por Dilma, foi outro chamado para conversa no Planalto.

Na nova agenda, a presidente intensificou as viagens pelo Nordeste, reduto eleitoral do PT que está sob influência do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial adversário em 2014. Dilma quer mantê-lo em seu radar. Em janeiro, almoçou com o governador em suas férias e o recebeu em audiência em Brasília.

Fonte: Estadão 12/02/13

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Alckmin decidiu demitir chefe de Inteligência ligado a José Dirceu



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O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu demitir o chefe de Inteligência da área de Segurança Pública de sua administração, delegado Mauro Marcelo.

 Segundo fontes do Palácio dos Bandeirantes, Alckmin foi convencido por assessores de que o delegado, ex-diretor das Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Lula, teria ligações muutos fortes com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado por corrupção, pelo Supremo Tribunal Federal, no processo do mensalão

. Avaliações internas do governo paulista também atribuem o fracasso da política de segurança ao fraco desempenho da inteligência chefiada pelo delegado.

Fonte: Claudio Humberto 10/02/13

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Petrobras perdeu até o senso

Por Carlos Alberto Sardenberg

Sabe qual a melhor coisa que poderia acontecer para a Petrobras? Uma forte queda do preço internacional do petróleo. Isso derrubaria também as cotações da gasolina e do diesel, produtos que estão quebrando a estatal brasileira. Como não há produção interna suficiente desses combustíveis, a companhia tem que importá-los. Como o governo Dilma segura os preços internos para conter a inflação, a Petrobras se vê na situação esdrúxula de comprar caro e vender barato - que perdura mesmo depois do reajuste anunciado na última terça. Prejuízo na veia.

Logo, se o governo não deixa aumentar mais o preço interno, resta torcer pela queda da cotação internacional.

Pode? Uma companhia petrolífera, dona de reservas elevadas, dependendo de uma queda no preço de seu principal ativo!

Acrescente aí uma forte valorização do real e o quadro "melhoraria" ainda mais para a estatal. Se o dólar voltasse, digamos, para R$ 1,70, a Petrobras economizaria cerca de 15% nas suas compras externas de combustível.

Claro que, nesse caso, também cairia o valor das reservas da Petrobras. De novo, pode? Uma companhia precisando de queda no valor de seu patrimônio.

Por outro lado, que sempre tem, a queda do preço internacional de petróleo colocaria em risco a operação no pré-sal. Ainda não se sabe o custo exato, pois a tecnologia está em desenvolvimento, mas certamente será muito caro retirar o óleo lá do fundão do oceano. Assim, se a cotação global cair muito, o pré-sal torna-se economicamente inviável.

Consequências: a Petrobras não conseguiria financiamento para as novas operações e os estados e municípios perderiam os royalties pelos quais tanto brigaram.

Ou seja, é uma ideia de jerico torcer pela queda dos preços internacionais do óleo e dos combustíveis.

De outro lado, ainda, um dólar mais barato facilitaria as importações de equipamentos para extração e refino. Bom, não é mesmo?

Seria, se as políticas para o setor tivessem alguma lógica. Ocorre que a Petrobras é obrigada pelo governo a dar preferência ao produtor nacional, mesmo pagando mais caro, até um certo nível. Ora, com o real valorizado, a diferença de preços entre o local e o estrangeiro ficará bem maior, de modo que a estatal não terá como justificar a compra do equipamento made in Brasil.

Isso destruiria a política do governo para estimular a indústria nacional ou, caso o modelo fosse mantido, aumentaria os custos da Petrobras em reais.

Ou seja, é outra ideia de jerico torcer pela valorização do real neste caso.

Voltamos assim ao senso comum, pelo qual uma companhia de petróleo deve se dar bem quando o preço do petróleo está em alta. Esta lógica não mudou. O que a subverte é a gestão do governo brasileiro. Um desastre de grande competência: não é fácil fazer uma petrolífera perder dinheiro.

Outra coisinha: lembram-se de toda aquela campanha do governo Lula comemorando a autossuficiência em petróleo? Pois é, foi só marketing eleitoral. Só não, porque a estatal, que não pertence só ao governo, muito menos ao PT, pagou por aquela fraude. Custo na veia da população.

Protecionista quem?

Andam dizendo por aí que as negociações comerciais entre Mercosul e União Europeia (UE) não avançam por causa por causa do protecionismo dos dois lados.

Curioso. A UE, só na América Latina, tem acordos de livre comércio fechados com Chile e México (já em vigor) e mais Peru, Colômbia e América Central (a vigorar neste ano). Fora da região, tem acordos com diversos países da Ásia, inclusive Coreia do Sul, e está prestes a iniciar negociações com os Estados Unidos.

Já o Mercosul tem acordos com Israel e Jordânia.

Mas, dizem governo Dilma e aliados, neste ano as conversas com a Europa vão avançar.

Sério?

Se o Brasil não consegue ter livre comércio nem com a Argentina, principal sócia no Mercosul, se a Argentina, pelo calote, está excluída do mercado financeiro global, e se a Venezuela, nova sócia, só quer acordos com os amigos bolivarianos, Cuba, por exemplo, quem mesmo vai negociar com a UE?

No último fim de semana, a Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe, Ceal, reuniu-se com a UE - encontro de cúpula, solene. Olhando bem, no entanto, os líderes europeus mantiveram duas conversas bem diferentes. Uma com o pessoal do Mercosul - só protocolar, para os fotógrafos.

Outra, para valer, com o chamado bloco do Pacífico, liderado por Chile, Peru, Colômbia e México. Enquanto o Mercosul torna-se cada vez mais restrito ao grupo bolivariano de Chávez, Cristina Kirchner e outros menores, o bloco do Pacífico já tem acordos com os EUA, Europa e negocia um megatratado com a Ásia.

Devem estar todos equivocados, não é mesmo?

Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg de 3101/2013.
Charge: Sponholz

Com Cerco Judicial à Dissidentes, Cuba limita Viagens ao Exterior

Em meio a reformas, como a mudança na lei migratória que facilita a saída de cubanos do país, os dissidentes do regime denunciam um aumento no número de presos políticos e de detenções temporárias, consideradas a principal ferramenta de repressão do governo de Raúl Castro. Ontem, o opositor José Daniel Ferrer, que cumpre 25 anos de prisão em regime domiciliar desde março de 2011, teve seu pedido para emissão de passaporte negado.

Ferrer é diretor da União Patriótica Cubana (Unpacu), entidade que representa a dissidência no leste do país e, segundo o levantamento da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), é a organização opositora com mais membros detidos atualmente: 32. A comissão afirma que o número de presos "de consciência" na ilha saltou de 45, em março de 2012, para 90, em 22 de janeiro, quando divulgou os últimos dados.

Segundo a CCDHRN, 6.602 cubanos foram vítimas de detenções temporárias no ano passado, uma média de 550 por mês. Em março, quando o papa Bento XVI visitou a ilha, 1.158 casos foram registrados. Em 2011, a entidade dissidente contou 4.123 prisões de curta duração e, em 2010, 2.074.

"Isso reflete um aumento na repressão política", disse Elizardo Sánchez, diretor da CCDHRN, explicando que, em razão dos indiciamentos que esses presos costumam sofrer - principalmente de "desordem, desacato ou resistência" -, o governo restringe a saída dos opositores, já que pessoas com pendências judiciais têm a emissão do passaporte vetada.

Restrição. José Daniel Ferrer afirmou que ao tentar iniciar os trâmites para a emissão de seu passaporte, ontem, ouviu das autoridades de Santiago de Cuba - onde vive e mantém a sede da Unpacu - que se enquadra nos incisos B e H do Artigo 23 da nova Lei de Migração. Os parágrafos afirmam que pessoas em "cumprimento de uma sanção penal ou medida de segurança" ou "por outras razões de interesse público" não podem obter o documento necessário para deixar o país.

"Comunicaram-me que não me qualifico", disse Ferrer, um dos 75 presos na Primavera Negra, de 2003, e condenado por atuar contra "a independência do Estado cubano ou contra a integridade de seu território". No dia anterior, o dissidente Ángel Moya Acosta, condenado pelo mesmo motivo, também teve seu pedido de emissão de passaporte negado.

Otimismo. A blogueira e colunista do Estado Yoani Sánchez, que na quarta-feira obteve seu passaporte das autoridades cubanas, tuitou ontem que foi ao setor consular da Embaixada do Brasil em Havana para solicitar seu visto para visitar o País, que poderia ser seu primeiro destino de viagem após ter sua saída de Cuba negada 20 vezes.

Yoani pretende chegar ao Brasil na segunda quinzena deste mês, para a exibição de um documentário em que foi entrevistada, e retornar em abril, para um fórum sobre liberdade de imprensa em Porto Alegre.

Fonte: Estadão 02/02/13

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Defensor da Ética




O Estado de S.Paulo

Renan Calheiros é presidente do Senado Federal. A Casa está de joelhos. Cinquenta e seis senadores renderam-se aos interesses subalternos do caciquismo político que transformou o Congresso Nacional no mais desprestigiado poder da República. Cumpriu-se, de resto, mais uma etapa importante da consolidação do projeto de poder do lulopetismo. Mais uma vez, os detentores da hegemonia política no plano federal demonstraram sua habilidade em usar a mão do gato para atingir seus objetivos. Para completar a destruição da credibilidade do Parlamento, só falta agora consumar-se a eleição do notório deputado Henrique Alves como presidente da Câmara dos Deputados.

Para os brasileiros que acompanharam pela televisão as sessões plenárias do julgamento do processo do mensalão pelo STF, a transmissão ao vivo da eleição de Renan Calheiros e da melancólica despedida de José Sarney foi ilustrativa, didática mesmo, por escancarar a falta de cerimônia com que muitos dos nobres parlamentares se esmeram em usar as palavras para esconder o que pensam e dissimular suas verdadeiras intenções. Sob esse aspecto, o comportamento dos petistas foi memorável.

Foi necessária uma eleição porque havia, teoricamente, dois candidatos à presidência. Pedro Taques (PDT-MT) e o notório Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas a ampla maioria da base de apoio ao governo, diligentemente construída ao longo de 10 anos, não permitia qualquer dúvida quanto ao resultado. O próprio Pedro Taques se apresentou como "anticandidato", em discurso deliberadamente elaborado para denunciar a farsa que se encenava. Uma tentativa quase quixotesca, saudada com aplausos frouxos, rápidos e encabulados.

Pela tribuna desfilaram 20 senadores. Ironicamente, a maioria manifestou apoio a Taques. Os apoiadores de Calheiros nem se deram ao trabalho de gastar o verbo. Deixaram a missão para os líderes, como o novo comandante do PT na Casa, o piauiense Wellington Dias, que se desincumbiu do modo mais protocolar possível. Eduardo Suplicy (PT-SP), que não perde uma oportunidade de aparecer, não teve coragem de declarar que não aprovava a candidatura Renan e apelou para o recurso esperto de sair pela tangente com a proposta delirante da eleição de um terceiro nome "de consenso".

Os apoiadores da candidatura oficial insistiram no argumento de que o PMDB, como bancada majoritária, tinha o direito regimental de indicar o nome para a presidência. É verdade. Só não está escrito em lugar nenhum que o candidato teria que ter ficha suja, um comprometedor retrospecto de malfeitos exatamente no cargo para o qual estava sendo reconduzido depois de ter a ele renunciado para preservar o mandato de senador. Os opositores bateram insistentemente na tecla do "resgate da credibilidade" do Congresso. Certamente interpretam o sentimento da grande maioria dos brasileiros - que quer exatamente isso. Mas há muito tempo perderam, eles próprios, a capacidade de fazer oposição séria e consequente.

Nos 20 minutos em que, antes da votação, apresentou seu programa, Renan Calheiros repetiu várias vezes, sem corar, que só assumira a condição de candidato havia menos de 24 horas, depois da reunião realizada na noite anterior pela bancada do PMDB que oficializou sua indicação. Uma afirmação tão deslavadamente falsa quanto a crítica que fez, aos brados, dos homens públicos que atuam não em defesa dos interesses nacionais, mas de seus próprios interesses pessoais e de grupos.

O que é verdadeiro é o regozijo de Lula & Cia. com Calheiros na presidência do Senado. Trata-se de um exímio operador, habilitado como poucos ao toma lá dá cá que viabiliza o apoio do Congresso às matérias de interesse do Palácio do Planalto. Certamente isso terá um preço, que não será baixo. Mas Lula já ensinou e Dilma parece estar aprendendo que há sempre um preço a pagar.

Empossado no lugar de Sarney, Renan voltou a discursar, dessa vez para fazer promessas, que não mereceriam qualquer referência não fosse o fato de ter-se declarado o guardião da ética no Senado!


Fonte: Estadão 02/02/13
Charge:Jean Galvão

300 Picaretas e Uma Pá de Cal

 Fernando Gabeira

Num dos meus primeiro mandatos de deputado federal defendi na tribuna da Câmara Os Paralamas do Sucesso, acusados de caluniar o Congresso Nacional com a música Luís Inácio (300 picaretas). Os primeiros versos diziam: "Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou/ são trezentos picaretas com anel de doutor".

Defendi-os em nome da liberdade de expressão. Não concordava inteiramente com Lula. Talvez fossem 312 ou 417. Reconheço que 300 é um número redondo, mais fácil de inserir nos versos de uma canção popular. Além do mais, nem todos têm anel de doutor. Mas isso são detalhes. O mais importante é registrar que estávamos na véspera da chegada do PT ao governo federal, início da era do "nunca antes neste país". E aonde chegamos, agora, uma década depois?

Renan Calheiros deve assumir a presidência do Senado, Henrique Eduardo Alves, a da Câmara e o deputado Eduardo Cunha, a liderança do PMDB. Caso se concretizem, esses eventos representam um marco na História do Congresso. Significa que, para muitas pessoas informadas, o Congresso deixa de existir. É o fim da picada...

Conheço os passos dessa estrada porque transitei nela 16 anos. O mensalão significa o ato inaugural, a escolha do tipo e da natureza de alianças políticas do novo governo. O mensalão significa a compra de votos dos partidos, uma forma de reduzir o Congresso a um balcão de negócios. Em seguida vieram as medidas provisórias (MPs). Governar com elas é roubar do Congresso tempo e energia para seus projetos. A liberação das emendas parlamentares era a principal compensação pelo espaço perdido.

Mas deputados e senadores não cedem o espaço porque são bonzinhos ou temem o governo. As MPs são uma forma simplificada de o governo realizar seu objetivo. Os parlamentares tomaram carona nesse veículo autoritário. E inserem as propostas mais estapafúrdias no texto das MPs. Com isso querem aprovar suas ideias sem o caminho democrático que passa por debates em comissão, audiências públicas, etc.

Na Câmara essas inserções oportunistas são chamadas de jabuti. O nome vem da frase "jabuti não sobe em árvore, alguém o coloca lá". O nome jabuti pressupõe que há interesses econômicos diretos por trás de cada uma dessas emendas.

A perda de espaço para o governo não é o problema, desde que todos os negócios continuem fluindo, das MPs às emendas ao Orçamento. O espaço não interessa, o que interessa é o dinheiro. Espaço por espaço, o Congresso já abriu uma grande avenida para o Supremo Tribunal Federal julgar casos polêmicos, como aborto e união gay.

Os negócios, como sempre, são o centro de tudo. Negócios, trambiques, maracutaias e, como diziam Os Paralamas em 2003, "é lobby, é conchavo, é propina e jeton". Uma década depois, vendo o Congresso idêntico à sua caricatura, pergunto quando é que nos vamos dar conta dessa perda, desse membro amputado de nossa anatomia democrática.

A saída da minoria - chamada, com uma ponta de razão, de Exército Brancaleone - foi pressionar por dentro e estabelecer uma tensão entre ala e a opinião pública. Na definição do voto aberto para cassar deputados, vencemos o primeiro turno porque a imprensa e eleitores estavam de olho. Vitória esmagadora, contra apenas três abstenções. Agora até esse caminho está bloqueado. Todos os dispositivos internos foram reforçados e passaram a impedir tais votações. Com a cumplicidade do PT, os piores elementos foram ascendendo aos postos estratégicos e agora o esquema chega ao auge, com a escolha de Calheiros e Alves.

De um lado, interessa-me avaliar como será o futuro do País sem um Congresso que possa realmente ser chamado por esse nome. De outro lado, um olho na saída. Não sei se repetiria hoje a campanha contra Renan, os cartazes com chapéu de cangaceiro e a frase: "Se entrega, Corisco". Nem se gostaria de ver de novo aqueles bois se deslocando pelos campos alagoanos para as terras de Renan, para comprovar que era dono de muitas cabeças de gado. O ideal, hoje, seria poupar os bois dessa nova viagem inútil. Passar o vídeo, criar uma animação, substituir toneladas de carne de boi por milhões de pixels.

Henrique Alves destinou dinheiro a uma empresa fantasma de um assessor dele. No lugar deserto onde a empresa funcionava havia apenas um bode, chamado Galeguinho. O bode foi dispensado depois de sua estreia. Os bois mereciam o mesmo. "Parabéns, coronéis, vocês venceram", diz a letra de Luís Inácio. Deixaram-nos monitorando bois de helicóptero e pedindo ao bode que nos levasse ao gerente da empresa.

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou. Mas foi o primeiro a passar para o lado deles e a contribuir com algumas novas espécies para a fauna já diversa que encontramos em 2003.

A vitória dos cavaleiros do apocalipse recoloca a urgência de salvar o Congresso dele mesmo. A maneira de potencializar o trabalho da minúscula oposição é a maior transparência possível e uma ajuda da opinião pública. A partir dessa vitória, Calheiros, Alves e seus eleitores no Parlamento dizem apenas à sociedade: somos assim, e daí? Depois do descanso merecido, o bode que é o porteiro da empresa favorecida por Alves deveria ser colocado na porta do Congresso.

É impensável que 300, 312 ou 417 - não importa o número exato - picaretas enfrentem o Brasil sem uma represália dura. O espírito do "eles lá, nós aqui", de distância enojada, no fundo, é bom para eles, que querem total autonomia para seus negócios. Será preciso mostrar que toda essa farsa é patrocinada pelo dinheiro público. E que sua performance será amplamente divulgada agora e no período eleitoral. O instinto de sobrevivência da instituição não existe. Mas o do político é muito grande. É preciso que ele sinta o desgaste pessoal produzido por suas escolhas.

Muitas pessoas vão trabalhar nisso, cada uma no seu posto, às vezes em manifestações. A eleição direta para presidente foi uma conquista. A perda do Congresso para o ramo dos secos e molhados é uma dolorosa ferida em nossa jovem democracia.

Nós demos um boi para não entrar nessa luta. Daremos um bode para não sair dela.

Fonte: Estadão - Fernando Gabeira é jornalista.
Charge:Sponholz

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Arnaldo jabor: Divisão entre público e privado no Brasil é polêmica


Dilma resiste a pressão do PT e evita regular mídia




Mesmo pressionada por setores do PT e pelo ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula Franklin Martins, a presidente Dilma Rousseff pretende manter na gaveta a proposta que cria mecanismos para o controle dos meios de comunicação, informaram auxiliares do governo. ...

Segundo eles, Dilma não está sensibilizada com o esforço feito pelo presidente do PT, Rui Falcão, e por uma ala do partido comandada pelo ex-ministro José Dirceu, que insiste na regulação da mídia. Na quarta-feira, durante reunião com deputados do PT, em Brasília, Falcão atacou a mídia e acusou setores do Ministério Público Federal de atuação política, dizendo que eles fazem a “real oposição” ao governo. O PT promete insistir no tema da regulação ao longo do ano.


Fonte: Blog do Ricardo Noblat - 01/02/2013
Charge: Cazu