terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Churrasco e Pizza


Com tudo isso que está acontecendo sobre o caso "Battitsti" vale a pena ler esse artigo de Nelson Motta, escrito no jornal O Estado de São Paulo.

Na Copa do Mundo de 1982, quando a fabulosa seleção brasileira foi surpreendentemente derrotada pela Itália, a "Gazzetta dello Sport" abriu a manchete histórica e hilariante: "Il Brasile siamo noi."

Agora, além do governo, do Judiciário, da imprensa e das famílias das vítimas de Cesare Battisti, os italianos de todos os times e partidos políticos estão se sentindo comparados a uma ditadura sul-americana. Perderam o humor e estão justamente insultados porque Tarso Genro e Lula estão achando que "a Itália é nóis".

Com sua autoridade em leis italianas, nosso ministro fez um julgamento soberano e devastador do seu sistema judiciário, da justeza dos processos e das condenações, e do respeito aos direitos dos acusados. Que, ao contrário de nós, eles muito prezam e respeitam.

Pena que o nosso impetuoso humanista ignore que o crime com motivação política é um agravante na Itália. Claro: roubar e usar o dinheiro para matar ou derrubar governos eleitos é mais grave do que para uso próprio. No Brasil, é justificativa para tudo, na tradição de nossa "esquerda revolucionária": a nobreza da causa, os fins justificam os meios, é tudo em nome do povo e da liberdade (sic).

Não, ministro, a Itália não é nóis. Tem uma tradição democrática e judiciária muito mais sólida do que a nossa, não recorreu ao terrorismo de Estado, a tribunais de exceção, prisões ilegais e torturas, mesmo nos "anos de chumbo". O Estado italiano apenas se defendia de movimentos que queriam derrubar o governo democrático pelas armas e instalar... nem eles sabiam o quê.

Apoiando Tarso, a tese da marolinha diplomática de Lula: "Temos uma relação tão forte com a Itália que não será um exilado que vai trazer animosidade nem com eles nem com o G-8." Berlusconi, e a torcida do Milan, do Inter e da Juventus, devem estar pensando a mesma coisa: "O Brasil não vai querer brigar com a Itália e o G-8 só por causa de um terroristazinho."

Criado na cultura do churrasco sangrento, em cavalgada desabrida pelos pampas da História, como um anti-Garibaldi sem Anita, Tarso Genro deve estar pensando que na Itália tudo acaba em pizza.

Fonte: Sintonia Fina - Estadão - Nelson Motta

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