quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Abandono trafega nas rodovias



CNT avalia 90 mil quilômetros de estradas e constata que apenas 14% deles podem ser considerados “ótimos”, quase todos entregues à iniciativa privada.

Embora a proporção de rodovias classificadas como “boas” tenha aumentado de 17%, em 2009, para 26,5%, em 2010, quase 60% das estradas federais e das principais vias estaduais pavimentadas do país receberam conceito de “regular” a “péssimo” em pesquisa feita pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgada ontem. Foram avaliados 90,9 mil quilômetros de estradas e no quesito “ótimo”, estão apenas 14,7% deles.

O levantamento apontou ainda a disparidade entre os trechos administrados por concessionárias — 54,7% receberam a mais alta nota — e os submetidos à gestão pública — apenas 7,1% conseguiram a classificação máxima. O Distrito Federal, apesar de exibir índices de conservação e qualidade de suas pistas superiores à média nacional, tem quase todos os corredores rodoviários enquadrados na menção “regular”.

Por estado, São Paulo foi o que disparadamente recebeu as melhores notas. De acordo com a CNT, autora da pesquisa, a explicação está na presença maciça de rodovias concedidas à iniciativa privada. “Locais em que se verifica a manutenção e o fluxo regular de investimento produzindo resultados favoráveis aos usuários”, explica a entidade, em nota.

Presidente da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle do Trânsito (Abramcet), Sílvio Medici também atribui à gestão privada os bons resultados paulistas, chamando atenção, entretanto, para um quadro diferente nas privatizações feitas pelo governo federal. “Essas ainda não surtiram o efeito esperado. Claro que o valor de pedágio pago em São Paulo é muito superior, o que, de certa forma, pode explicar as condições melhores. Entretanto, precisamos cobrar as melhorias também nas outras privatizações”, afirma Medici.


Rodovia BR 40 BDB/BH Felixlândia /Curvelo Sete Lagoas

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) foi procurada pela reportagem, mas afirmou, via assessoria de imprensa, que não podia comentar a pesquisa por não ter ainda estudado os dados. De acordo com a CNT, mesmo nas rodovias não concedidas à iniciativa privada houve uma melhora no último ano, resultado dos maiores investimentos em infraestrutura de transportes. A entidade defendeu recursos para garantir a manutenção da malha atual, além de sua ampliação.

Para Medici, entretanto, além de conservar e aumentar as vias, é preciso reconstruir muitas delas. “Temos uma situação bastante dramática no Brasil, com estradas antigas, planejadas na década de 1940, 1950, com traçados equivocados e problemas estruturais”, critica.

Algumas dessas rodovias antigas fazem parte dos principais corredores rodoviários em que os moradores de Brasília precisam se aventurar quando querem viajar de carro. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, dos seis trajetos avaliados pela pesquisa, quatro receberam menção regular. O mais longo deles, Brasília-Belém, envolve seis rodovias, incluindo a DF-001, totalizando quase 2 mil quilômetros. Os caminhos que levam a Palmas e a São Paulo foram os únicos considerados bons.

Claro que o valor de pedágio pago em São Paulo é muito superior, o que, de certa forma, pode explicar as condições melhores”

Sílvio Medici, presidente da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle do Trânsito.

Fonte: Correio Braziliense - Renata Mariz 15/09/10

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