sexta-feira, 15 de julho de 2011
Análise: Duas semanas com o Google+
Há duas semanas o Google lançou quase em segredo sua nova rede social online, o Google+. Com ela, o gigante das pesquisas pretende ingressar em um mercado liderado pelo Facebook, no qual já tentou penetrar sem sucesso. Buzz e Wave foram as tentativas frustradas anteriores do Google para competir neste terreno, em que seu único êxito foi o apoio ao Orkut, criado inicialmente como projeto independente de um funcionário da empresa. O serviço tornou-se muito popular no Brasil e na Índia, mas não foi promovido em outros mercados pelo Google.
O Google+ ainda está em fase de testes, com usuários pré-selecionados, mas sua abertura total é iminente. Pode-se argumentar que a empresa resolveu fazer desta maneira para se assegurar de que tudo funciona bem antes de atrair mais público ou que se trata de uma estratégia publicitária para gerar interesse. Após 14 dias no Google+, o repórter analisou o que é bom e o que não é tão bom nesta nova aposta, e o que ela representa para outros partipantes do mercado como o Facebook e o Twitter.
O que promete
- Círculos: O Google+ organiza os contatos através de círculos. O usuário pode criar um para sua família, outro para seus colegas e outro para seus interesses, por exemplo. Ao agrupar as pessoas desta formar – semelhante ao modo com o que se agrupa as relações na vida real – é mais fácil decidir o que compartilhar com quem.
- Hangout: O sistema permite que qualquer usuário que tenha uma webcam organize uma espécie de bate-papo coletivo em vídeo com seus amigos. Ao iniciar uma destas vídeo-chamadas, o usuário abre sua câmera a seus amigos e todos podem falar ao mesmo tempo. Também é possível decidir com que círculos compartilhar o recurso.
- Como se compartilha: Ao escrever algo para compartilhar ou publicar um link, vídeo ou foto, o usuário tem total controle não só de quem o pode ver, como também do que os usuários podem fazer com seu conteúdo. Por exemplo, é possível estabelecer que nenhum usuário possa republicar uma postagem que você fez ou não permitir comentários em certas ocasiões.
- Fotos: As pessoas que têm telefones Android podem desfrutar de uma das funcionalidades que tem o potencial de trazer mais usuários para o Google+, o "instant upload". Com o recurso, cada vez que se faz uma foto com o celular, ela é colocada automaticamente no site em modo privado, tornando o compartilhamento posterior mais simples. Os usuários da Apple ainda estão esperando que a empresa aprove um aplicativo semelhante para o iPhone.
- A comunidade: É uma das coisas mais atraentes desta rede social, ao menos até agora. As coisas que estão sendo escritas e compartilhadas no Google+ são muito interessantes e a proporção entre conteúdo atraente e interferência (piadas, anúncios, etc) ainda favorece o primeiro.
O que precisa mudar
- Sparks: É uma boa idéia que ainda não conseguiu agradar. O usuário diz ao Google+ quais os temas que lhe interessam e o site dá a ele uma seleção de notícias, vídeos, fotos e outros conteúdos sobre o tema indicado. Ainda não está claro qual é o algoritmo que o Google utiliza para suas sugestões, mas encontro coisas mais interessantes no Twitter ou no Google Reader.
- Versão para celular: Em duas semanas desenvolvi uma relação de amor e ódio com o aplicativo do Google+ para celulares. O lado positivo é que considero muito útil que ele coloque minhas fotos instantaneamente no site ou que me deixe ver, fácil e rapidamente, o que outros compartilham. Mas não gosto de não poder começar um papo com amigos do celular, não ter aceso aos Sparks e não poder editar o que escrevo. Nota-se que é uma funcionalidade ainda em processo e que precisará de mais trabalho.
- Simplicidade: Entre a comunidade do Google+ há um grande entusiasmo pela nova rede social. O problema é que a comunidade já está composta majoritariamente de amantes do Google e de tecnologia. Não sei se a interface da rede social é muito intuitiva para quem, por exemplo, usa o Facebook.
- Huddle: O serviço para celulares permite, teoricamente, que se possa enviar mensagens de texto a diversos usuários ao mesmo tempo. O problema é que para usá-lo todos os usuários têm que ter o aplicativo instalado no Android. Mesmo que o Google gostaria que fosse diferente, a realidade é que nem todas as pessoas têm esse tipo de telefone.
- Não às empresas: Por hora, o Google não permite que empresas abram contas e tenham perfis no Google+. Mas isso também deixa de lado as organizações não-governamentais, que poderiam fazer bom uso da plataforma. Quer gostemos ou não, grupamento social também passa pela interação com grupos e instituições e o Google não pode ignorar isto.
A bola de cristal
O especialista em redes sociais Manuel Castells, da Universidade do Sul da Califórnia, diz que "as redes sociais vendem liberdade e, se não a dão, seus usuários irão a outro lado".
Nem o Google+, nem o Facebook, nem o Twitter são eternos. Eles existem na medida em que respondem às necessidades de seus usuários e, quando deixam de fazê-lo, morrem. Se não acreditam em mim, perguntem ao Friendster, ao MySpace ou ao Bebo.
O Google claramente quer roubar o mercado do Facebook e é possível que consiga feri-lo, mas não mortalmente. Pouco a pouco o Facebook se transformou de um site de rede social em uma plataforma social de entretenimento. E continua indo nesta direção.
O Twitter, por sua vez, parece ainda menos ameaçado que a rede de Zuckerberg, na medida em que segue sendo uma plataforma aberta, instantânea e sem vínculos entre seus usuários. A grande vantagem desta rede é sua capacidade de influenciar outras plataformas, sejam meios de comunicação, movimentos sociais ou empresas. É a voz digital da internet, não só uma rede social.
Mas talvez o Google+ represente uma ameaça para outras redes sociais, de nicho, que poderiam se perder diante de tantas ofertas.
Para além do êxito ou do fracasso do Google+, uma coisa parece clara em qualquer recanto social em que se pergunte sobre o tema: a competição é boa porque aumenta as opções dos usuários. A liberdade de escolha está servida no cardápio de opções.
FONTE:BBC Brasil 14/07/11
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