quarta-feira, 6 de julho de 2011

Collor e seu cinismo


Collor supostamente compungido contempla o caixão de Itamar: nunca foram amigos
Amigos, parece muito bonito o gesto do ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL) de elogiar, depois de morto, o ex-presidente Itamar Franco, seu vice e sucessor após o impeachment, e comparecer, de ar grave e compungido, a seu velório em Juiz de Fora (MG).

Parece bonito, e seria, se em sua atitude e em suas palavras houvesse um pingo de respeito à realidade dos fatos, à memória ainda fresca para muitos brasileiros da campanha eleitoral que levou Collor ao poder, em 1989, e de seu governo (1990-1992).
Na declaração inicial sobre a morte do ex-presidente, Collor disse, textualmente:
“Sinto muitíssimo a perda de um amigo e grande presidente do país. Itamar foi um companheiro inexcedível durante o período em que militamos juntos”.

Itamar nunca foi “grande amigo” de Collor, coisa nenhuma. Muito pelo contrário. Tendo sido convidado para ser o vice do então jovem governador de Alagoas para fortalecer-lhe a candidatura com sua impecável folha corrida moral, Itamar não demorou a ser desrespeitado pelo cabeça de chapa, que o ignorou durante a campanha eleitoral, não o consultava sobre nada e não o informava sobre decisões importantes.

Já no Planalto, manteve Itamar afastado do centro do poder e não lhe atribuía funções. Depois do impeachment, zombou várias vezes de seu substituto, chegando a, grosseiramente, duvidar de sua masculinidade em mais de uma ocasião.

Ao se reencontrarem os dois no Senado em fevereiro passado – Collor, ali instalado desde 2007, e Itamar recém-eleito pelo PPS de Minas Gerais –, o falecido ex-presidente, apesar de homem simples e cortês, recusou qualquer aproximação com o suposto “amigo”.

Sobre o cinismo de Collor, quem melhor disse foi o senador Pedro Simon (PMDB-RS), amigo e admirador de Itamar e líder de seu governo no Senado, em declaração ao Estadão:

– A vinda do Collor hoje [domingo] aqui [em Juiz de Fora, paras onde foi levado de São Paulo, inicialmente, o corpo do ex-presidente] é um gesto dele para mostrar que a vida continua. Agora que o Itamar morreu, né? Não há no mundo dois pontos tão equidistantes um do outro que nem foi o Itamar com o Collor. Não dá nem para entender.

(*) Blog do Ricardo Setti.

Fonte e charge: Contraovento

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