segunda-feira, 10 de maio de 2010

Chávez prova: Friedman tinha razão!


Por Mary O'Grady

Certa vez o falecido Milton Friedman, fez uma piada, dizendo que "se o governo fosse encarregado de administrar o deserto do Saara, em cinco anos haveria escassez de areia."
Friedman recorreu à hipérbole para chamar a atenção sobre o planejamento centralizado. Pelo menos era o que eu pensava até que Hugo Chavez tomou o controle do setor cafeeiro da Venezuela. No ano passado, pela primeira vez a Venezuela não produziu o café suficiente para atender a demanda interna. Agora o país importa café diante de uma profunda escassez.

Não é de admirar que os venezuelanos estejam atemorizados diante da recente expropriação de alguns depósitos e terras pertencentes ao gigante conglomerado Polar, o maior distribuidor de alimentos e bebidas do país. Chavez disse que se o presidente da Polar, Lorenzo Mendoza não ficar caladinho, poderão vir mais expropriações. Os consumidores venezuelanos sabem que a administração chavista da Polar, não terá mais êxito que as aventuras no setor cafeeiro.

O colapso da indústria cafeeira é emblemático: uma catástrofe economica mais ampla esta em gestação. Durante mais de uma década, Chávez empregou o controle de preços e promoveu uma hiperregulação intentando alcançar seus objetivos socialistas. Quando veio a esperada escassez, o governo deu resposta com a tática do salame para nacionalizar, fatiando parte do setor privado e tomando para colocar sob controle do Estado.

Agora, a economia entra em colapso. O FMI anuncia que neste ano, o Produto Interno Bruto se elevará na maioria dos países da América Latina, mas na Venezuela sofrerá uma redução de 2.6%. A inflação aumentou em mais de 30% em dois anos.

O exemplo do café é útil para entender como a situação chegou a este extremo. A Venezuela produzia café em abundância, mas em 2003, quando a inflação ameaçava a popularidade de Chávez, o governo impôs o controle de preços. A motivação para semear café se reduziu e aumentou a exportação da produção. Resultado: menos café à venda no mercado interno.

Chavez é inteligente, o suficiente para compreender que a escassez do café o prejudica nas pesquisas de popularidade. Em vez de permitir a flutuação de preços, declarou o café como matéria prima essencial e lançou um financiamento do 300 milhões de bolívares para revitalizar o setor. Para aumentar as zonas de cultivo, abrir estradas e manter sementeiras.

Quatro anos depois, nenhuma promessa se havia materializado e a escassez do café continuava. Precisando de um culpado, em Agosto de 2009 Chávez mirou a torrefadora mais antiga do país, a "Fama de América". Foi à televisão e acusou a empresa como a maior culpada pela crise no setor e escassez do café. As tropas militares invadiram as fábricas da Fama em Caracas e Valencia. Os funcionários do Estado anunciaram uma investigação, com prazo de 90 dias, para determinar se a Fama havia infrigido as leis.

No final da investigação, Chávez confiscou as instalações de torrefação da Fama. A medida foi justificada utilizando quatro critérios. Primeiro, que o governo tem a obrigação de assegurar o abastecimento de alimentos para a população. Segundo, porque o café é uma tradição venezuelana. Terceiro porque a escassez era causada, em parte, pelo tráfico ilegal de café para a Colômbia. E finalmente o quarto critério: a Fama tinha 30% do mercado de café na Venezuela. O governo ofereceu à empresa um pagamento de 10% do seu valor oficial.

O controle das torrefadoras não resultou no aumento da produtividade nas lavouras de café. Em Abril, o diário "El Universo", informou que a safra 2009/2010 foi reduzida em 16,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O jornal também informou que a Fama e a "Café Madrid", outra importante torrefadora – ambas sob o controle do Estado – operavam com a capacidade reduzida em 30%, devido à escassez da matéria prima. E que as torrefadoras so tinham café em estoque para um ou dois meses. Sem haver importação de café, seriam paralisadas em dois meses.

Na semana passada, Alberto Ramos, um analista da Goldman Sachs, declarou que "o governo agora tem uma grande participação na atividade econômica e reage a qualquer conflito real ou imaginário no setor privado, com ameaças de nacionalização. Este é um grande impedimento para os necessários investimentos nacionais e estrangeiros." Tambem é um impedimento para a produção, porque os chavistas não parecem ser tão eficientes na hora de dirigir empresas.
Poderia ser reconfortante para detratores de Chavez, que devido a tudo isto alguns dos partidários estejam abandonando o trem "bolivariano". Mas é muito cedo para celebrar.

Enquanto aumentam as deserções, Chávez reforça sua militância. A aliança com o Irã, as provocações contra a Colômbia, a carreira armamentista e o uso de pessoal militar cubano, provam a insegurança e o desespero de Chavez.

Há alguns dias anunciou o recrutamento de crianças de 12 anos para trabalhar como propaganadistas do Estado e agora está mandando para a prisão mais opositores políticos. O confisco de propriedades também está aumentando. A revolução de Chávez está em ruinas, não há dúvida. Mas ninguem pode acreditar que ele venha a aceitar a derrota de forma pacífica.

Mary O'Grady, Jornalista, é membro do Conselho Editorial do Wall Street Journal. Fonte: "El Diário Exterior", edição de 06/05/10. Tradução: A. Montenegro

Fonte: Alerta Total 08/05/10
Charge: Ique

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