segunda-feira, 25 de abril de 2011
O Maravilhoso Modelo Chinês
Muita gente diz que deixou de comer carne depois que soube do tratamento que boizinhos, porquinhos e franguinhos recebem nos abatedouros. Vai ser curioso ver se essas mesmas pessoas vão deixar de comprar iPads porque foram feitos na fábrica da Foxconn em Shenzhen (China), onde grades impedem que operários tentem o suicídio, dadas as condições degradantes de trabalho.
Provocação aos vegetarianos à parte, o fato é que o festejado “modelo chinês” de crescimento é baseado, em alguma medida, em trabalho semi-escravo. Seria interessante saber o que diria Engels, um dos ideólogos do comunismo, se relatasse a situação de Shenzhen como fez quando foi a Manchester, em 1842, e escreveu sobre a terrível situação da classe trabalhadora inglesa de então.
Talvez fosse algo como o texto do correspondente Fabiano Maisonnave, da Folha, em reportagem publicada neste domingo:
“Em escala, o complexo (da Foxconn) é o exemplo mais próximo da ‘cidade do futuro’ para 100 mil funcionários que a empresa estuda construir no Brasil, segundo anúncio feito na recente visita da presidente Dilma Rousseff à China.
Os relatos, porém, não soam nada modernos:
cobranças dos chefes por meio de humilhantes broncas públicas, longas horas extras, falta de privacidade e de lazer nos dormitórios e baixos salários são parte da rotina. Um quarto pode acomodar até oito pessoas.
A divisão dos edifícios é por gênero, e visitas estão proibidas. ‘A organização é semi-militar’, conta o engenheiro de computação Ri Qian (os nomes usados nesta reportagem são fictícios), 24, contatado pela reportagem por meio de uma comunidade on-line de funcionários da Foxconn.
‘O que importa é qualidade, velocidade, eficiência e flexibilidade.’ Há quatro anos na Foxconn, Ri, 25, trabalha dez horas diárias, seis dias por semana, em troca de um salário de R$ 1.083 e seguro-saúde.
Para economizar, vive nos dormitórios, onde divide o quarto com um colega. Na Apple, um profissional com a mesma formação recebe, em média, R$ 13 mil mensais.”
Fonte: Marcos Guterman 24/04/11
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