O ex-governador Paulo Egydio Martins defendeu, em depoimento à Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores de São Paulo, o golpe militar que depôs o presidente João Goulart, em 1964.
Segundo o político e empresário que governou São Paulo entre 1975 e 1979, o objetivo do golpe foi evitar o avanço do comunismo no Brasil: “Como participei desde o início da conspiração, posso dizer que a derrubada de um presidente constitucionalmente eleito era para não haver a comunização do Brasil.”
Teria sido uma espécie de anti-golpe, na versão de Martins: “Esperava-se, pelos pronunciamentos do Jango, principalmente aquele que criou os generais da espada de ouro, a constituição de um Estado socialista sindicalista, nos moldes de Cuba.”
Com 85 anos, o ex-governador citou detalhes da conspiração entre civis e militares que resultou no golpe do dia 31 de março de 1964. Lembrou que, na época, quando ocupava o cargo de 1.º secretário da Associação Comercial de São Paulo, chegou a procurar o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
No encontro, apresentou a ele, em nome dos conspiradores, uma proposta para que liderasse o movimento contra Jango. O político mineiro teria recusado por não acreditar no sucesso da empreitada. Ele achava que Goulart contava com um forte esquema militar.
Ao ser indagado, porém, se é correto dizer que o Brasil foi submetido a uma ditadura civil e militar, o ex-governador negou. Na avaliação dele, os militares traíram os civis. “A conspiração civil e militar não era para a implantação de uma ditadura. Nunca foi”, afirmou. “Não sabíamos que nossa participação seria usada para uma ditadura militar que durasse mais de vinte anos.”
Com a reorganização partidária imposta pela ditadura, Martins se filiou à Arena, partido que dava sustentação política ao governo. Era diretor da empresa canadense Alcoa quando foi chamado pelo general Castello Branco, primeiro presidente militar, para chefiar o Ministério da Indústria e Comércio.
Mais tarde o general Ernesto Geisel (1974-1979) o escolheu para governar São Paulo. Seu nome é frequentemente associado ao processo de distensão política que levou à saída dos militares do poder.
Ao final do depoimento na Câmara de Vereadores, nesta terça-feira, 26, ele disse que não se arrepende de ter conspirado contra o governo democraticamente eleito: “Agora que deu certo, eu diria que faria tudo de novo. Basta ver o que está acontecendo com as repúblicas socialistas proletárias do mundo.”
Fonte: http://blogs.estadao.com.br
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